De tempos em tempos.

De tempos em tempos

Em tempos de outrora vivi, rodeada pela grama fresca e pássaros cantando. Com um vestido florido e fita no cabelo eu dançava e o vento despenteava minha trança mal-feita.
Nas mãos uma pequena flor eu carregava em busca de alguém para quem entregar.
Minha boca rosada se abria em sorrisos ao ver o moço chegar.
Eu sabia que ele sempre viria. Oh, sim, eu sabia. O meu intento era entregar-lhe a flor, uma margarida, que eu colhia para ele no jardim.
Enfeitava-me ainda mais quando, ao longe, o galope do cavalo anunciava a sua chegada.
E corava quando o moço dizia: “Menina bonita com laço de fita e perfume de flor, quisera eu possuir o teu amor.” E eu pensava, somente pensava, em dizer-lhe o quanto já o amava.
Em tempos de hoje eu vivo, cercada pelos hábitos contemporâneos. O vento que sopra e me despenteia já não é mais tão puro quanto aquele dos velhos campos. Os pássaros, estes só escuto pela manhã, quando o sol ainda está nascendo.
Mas em minhas mãos ainda tenho uma flor. E eu sei que o moço virá. Oh, sim, eu sei.
Talvez eu nunca o tenha visto. Talvez eu não fique corada na primeira vez que o encontrar. Mas irei reconhecê-lo de alguma forma.
E ele virá. Eu sei. Eu dar-lhe-ei a flor e lhe direi: “Moço bonito, tu és meu zahir. Viajamos tempo e espaço, vivemos longos invernos, sofremos com as tempestades, mas o tempo todo era você.”.


Mari Gondim. "Mari In The Sky With Diamonds"